O tempo e as jabuticabas
Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.
Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltavam poucas, rói uma a uma até o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo "majestoso cargo" de secretário geral do coral ... ou coisa que o valha.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: "As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos".
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa ...
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana;
Que saiba rir de seus tropeços,
Não se encante com triunfos,
Não se considere eleita antes da hora,
Não fuja de sua mortalidade,
Defenda a dignidade dos marginalizados,
Que deseje tão somente andar ao lado de Deus,
Que caminhe perto de coisas e pessoas de verdade,
Que desfrute do amor absolutamente sem fraudes,
Pois assim nunca será perda de tempo
O essencial faz a vida valer a pena
Basta o essencial
Rubem Alves
(consta como do autor, mas não sei pq retirei da internet e sabem como é... dei uma googlada por ai e vários sites confirmam... enfim... se estiver errado, avisem)
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