Gosto dos dias de vento.

Sabes, quando temos o coração acordado, até o vento pode conversar conosco. E dizer-nos muitas coisas importantes...
A mim, que em frente à janela do meu quarto tenho umas quantas árvores, o vento fala-me sempre da importância das raízes.
Às vezes, parece que vivemos sem chegar nunca a lançar raízes profundas.

Ter raiz significa encontrar um sentido verdadeiramente válido para viver, um sentido daqueles que as primeiras invernias não derrubam, perene, mais forte que a morte, como o amor.

E lá fora, o vento continua a segredar-me tudo isto enquanto embala e empurra as árvores do jardim: vão-se as folhas, caem alguns frutos já tardios, partem-se alguns galhos mais frágeis, mas a árvore permanece, porque está enraizada.
E assim o vento até a vai limpando...
E o vento, assim, até vai espalhando sementes com as suas invisíveis mãos.

Estás a ver? Quando há uma raiz profunda, o vento forte até se torna para as árvores instrumento de purificação e fecundidade.
Temos que lançar raízes, assumir motivos válidos para viver e enfrentar todos os ventos, olhos nos olhos.

E no subsolo do nosso coração, temos que aprender dia após dia, que para os nossos corações enraizados não há problemas. Nunca há problemas, apenas desafios. Sim, transformar os problemas a chorar em desafios a vencer, esse é o segredo dos corações bem enraizados, para domar todos os ventos.
Para isto, a aposta primeira não se faz nas folhas, nos frutos ou nos ramos débeis do nosso ser; tudo começa a jogar-se nas raízes, no sentido, nos critérios.

Olha, o vento a dançar por entre as árvores do jardim está ainda a dizer-me outra coisa: Até na morte as raízes são sinais de uma grande dignidade.

Sabes: É que uma árvore morre sempre de pé…

SHALOM!
(Por Rui Santiago)
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