A mão amiga
Um fotógrafo que fez a cobertura de uma intervenção cirúrgica para espinha bífida feita dentro do útero materno em um feto de apenas 21 semanas de gestação, em uma autêntica proeza médica, nunca imaginou que sua máquina fotográfica registraria talvez o grito a favor da vida mais eloqüente conhecido até hoje.
Enquanto Paul Harris cobria, na Universidade de Vanderbilt em Nashville, Tennessee, o que considerou uma das boas notícias no desenvolvimento deste tipo cirurgias, captou o momento em que o bebê tirou sua pequena mão do interior do útero da mãe, parecendo tentar segurar um dos dedos do doutor que estava o estava operando. A foto espetacular foi publicada por vários jornais nos Estados Unidos e a sua repercussão cruzou o mundo até chegar à Irlanda onde se tornou uma das mais fortes bandeiras contra a legalização do aborto. A pequena mão que comoveu o mundo pertence a Samuel Alexander, cujo nascimento é previsto para o final de abril (no dia da foto ele tinha 5 meses de gestação). Quando pensamos bem nisto, a foto é ainda mais que eloqüente. A vida do bebê está literalmente por um dedo; os especialistas sabiam que não conseguiriam mantê-lo vivo fora do útero materno e que deveriam tratá-lo lá dentro, corrigir a anomalia fatal e fechá-lo para que o bebê continuasse seu crescimento normalmente.
Por tudo isso, a imagem foi considerada como uma das fotografias médicas mais importantes dos últimos tempos e uma recordação de uma das operações mais extraordinárias registradas no mundo.
A história atrás da imagem é ainda mais impressionante, pois reflete a luta e a experiência passada por um casal que decidiu esgotar todas as possibilidades, até o último recurso, para salvar a vida do primeiro filho deles.
Essa é a odisséia de Julie e Alex Arms, que moram na Geórgia, Estados Unidos. Eles lutaram durante muito tempo para ter um bebê. Julie, enfermeira de 27 anos de idade, sofreu dois abortos antes de ficar grávida do pequeno Samuel. Porém, quando, completou 14 semanas de gestação, começou a sofrer câimbras fortes e um teste de ultra-som mostrou as razões.
Quando foi revelada a forma do cérebro e a posição do bebê no útero, o teste comprovou problemas sérios. O cérebro de Samuel estava mal-formado e a espinha dorsal também mostrou anomalias. O diagnóstico, como já era esperado, foi de que o bebê sofria de espinha bífida e eles poderiam decidir entre um aborto ou um filho com sérias incapacidades.
De acordo com o pai Alex, 28 anos, engenheiro aeronáutico, eles se sentiram destruídos pelas notícias mas, pela profunda fé que têm, o aborto nunca seria uma opinião. Antes de se permitir derrubar, o casal decidiu procurar uma solução por seus próprios meios e foi quando ambos começaram a buscar ajuda pela Internet. A mãe de Julie achou uma página que trazia detalhes de uma cirurgia fetal experimental desenvolvido por uma equipe da Universidade de Vanderbilt. Deste modo, eles entraram em contato com o Dr. Joseph Bruner (cujo dedo é seguro por Samuel) e começou uma corrida contra o tempo.
Uma espinha dorsal bífida pode levar a danos cerebrais, gerar paralisias diversas e até mesmo uma incapacidade total. Porém, quando pode ser corrigido antes de o bebê nascer, muitas são as chances de cura. Mas em função do grande risco para o bebê, os Arms decidiram recomendá-lo a Deus. A operação foi um sucesso.
Durante a cirurgia, os médicos puderam tratar o bebê, cujo tamanho não era maior do que o de um porquinho da índia - sem tirá-lo do útero - fechar a abertura originada pela deformação e proteger a coluna vertebral de modo que os sinais vitais nervosos pudessem ir agora para o cérebro.
A apresentadora Justine McCarthy disse que é impossível não se comover com a imagem poderosa de uma mão pequena que segura o dedo de um cirurgião e nos faz pensar em como uma mão pode salvar vidas. Disse também que esta imagem é talvez o argumento mais forte que ela conhece contra o aborto. McCarthy resume com estas palavras o impacto da imagem que está sendo usada na campanha contra a legalização do aborto na Irlanda e a favor da vida.
Samuel se tornou o paciente mais jovem que foi submetido a esse tipo de intervenção e, embora ainda não tenha sentido a pele da mãe e ainda não conheça o mundo que há fora do útero materno, é perfeitamente possível que Samuel Alexander Arms segure novamente a mão do médico.

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